A teologia da substituição, que ganhou força após a era apostólica, afirma que a Igreja substituiu Israel como o povo escolhido. No entanto, essa ideia não encontra respaldo nos textos de Paulo.
A Teologia da Substituição: Verdade ou Heresia?
Graça e paz, irmãos e amigos. Shalom, shalom.

A teologia da substituição, que ganhou força após a era apostólica, afirma que a Igreja substituiu Israel como o povo escolhido de Deus. Segundo essa corrente, as promessas e bênçãos feitas a Israel no Antigo Testamento teriam sido transferidas para a Igreja.
Embora como sistema formalizado essa ideia não esteja definida no Novo Testamento, seus defensores utilizam alguns textos bíblicos para justificá-la:
Mateus 21:43: Yeshua (Jesus) declara aos líderes religiosos judeus: “O reino de Deus vos será tirado e será dado a um povo que dê os seus frutos”. Esse discurso é dirigido aos sacerdotes corruptos da época e reflete o cumprimento profético de que o reino seria retirado desses líderes e passado a outros judeus: os apóstolos, todos eles judeus.
Atos 21:17-20: Neste texto, fica claro que a chamada “igreja primitiva” em Jerusalém era composta por milhares de judeus crentes no Messias e zelosos da Lei. Portanto, a ideia de uma Igreja gentílica substituindo Israel contradiz esse cenário.
Se existe uma substituição, não se trata de um conceito novo. Deus frequentemente substituiu líderes corruptos por aqueles escolhidos para cumprir Seus propósitos. A liderança do reino foi retirada dos sacerdotes corruptos e transferida aos apóstolos, cuja missão era restaurar a casa de Israel e a casa de Judá, conforme a promessa da Nova Aliança: colocar a Lei de Deus nos corações (Jeremias 31:31-34).
Romanos 9–11
Em Romanos 9 a 11, Paulo deixa claro que Deus ainda tem planos para Israel. Contudo, muitos interpretaram esses capítulos como evidência de que a Igreja seria agora o “Israel espiritual”:
Romanos 11:1-2: “Pergunto, pois: Terá Deus rejeitado o seu povo? De maneira nenhuma! Eu mesmo sou israelita, descendente de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o seu povo, o qual de antemão conheceu.” Aqui Paulo reafirma que Deus mantém Seu plano para Israel.
Romanos 11:29: “Porque os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis.” As promessas de Deus para Israel permanecem em vigor.
Romanos 11:11-12: “Por acaso tropeçaram para que caíssem? De maneira nenhuma! Ao contrário, pela sua transgressão veio a salvação para os gentios, para provocar ciúmes em Israel.” Paulo explica que a salvação dos gentios tem o propósito de abençoar Israel.
Efésios 3:6: Paulo esclarece que os gentios, por meio do evangelho, tornaram-se coerdeiros das promessas. No entanto, isso não anula o papel de Israel no plano divino, até porque a expressão “coerdeiros” implica que já existe um herdeiro.
A Teologia da Substituição na História da Igreja
Nos séculos seguintes à destruição do Templo em 70 d.C., com o aumento do número de gentios na Igreja e a separação crescente entre cristãos e judeus, a ideia de que a Igreja substituiu Israel foi ganhando força. Alguns fatores que contribuíram:
Destruição do Templo: Muitos cristãos interpretaram esse evento como um julgamento de Deus sobre Israel, fortalecendo a ideia de que o papel de Israel como povo escolhido havia terminado.
Teólogos como Justino Mártir, Tertuliano e Agostinho:
Justino Mártir, no Diálogo com Trifão, afirmou que as promessas feitas a Israel foram transferidas aos cristãos, em contrariedade a textos como Romanos 3:1-2 e Romanos 9:4-5, onde Paulo destaca os próprios judeus como receptores das promessas.
Agostinho considerava os judeus “espiritualmente cegos”. No entanto, essa ideia é contrária à declaração de Paulo de que “a cegueira” era parcial e temporária (Romanos 11:25).
Mudança da prática sabática:
Agostinho, por exemplo, rejeitava a observação literal do sábado judaico, vendo-o como um sinal espiritual de descanso em Deus. Esse desvio foi associado à profecia de Daniel 7:25: “Cuidará em mudar os tempos e a lei”.
O Questionamento da Teologia da Substituição
Nos séculos XIX e XX, a teologia da substituição foi amplamente questionada, especialmente após eventos históricos como o Holocausto e a restauração de Israel como nação em 1948. Fatores importantes incluem:
Movimento Dispensacionalista: Surgido no século XIX, enfatiza a continuidade do plano de Deus para Israel e para a Igreja, como dois povos distintos no plano divino.
Vaticano II (Nostra Aetate, 1965): Rejeitou a ideia de que os judeus foram coletivamente rejeitados por Deus, promovendo o diálogo inter-religioso.
Movimento Sionista: A restauração de Israel e o retorno de judeus à Terra Prometida reforçaram o entendimento bíblico das promessas irrevogáveis de Deus para Israel.
Hoje, muitas denominações cristãs rejeitam a teologia da substituição, reconhecendo o papel simultâneo de Israel e da Igreja no plano de redenção divino.
Reflexão Final
Já se perguntou onde estava a verdadeira igreja do Messias, que começou com Ele e seus apóstolos? Como ela sobreviveu em paralelo a religiões que introduziram heresias e confusões ao longo de dois mil anos?
A resposta pode estar em compreender que o plano de Deus inclui judeus e gentios, unidos pela fé em Yeshua. O filho pródigo, como mencionado por Yeshua (Jesus), não representa um desviado de uma denominação, mas sim a restauração daqueles que, dispersos, retornam ao pomar de Deus: a Torah, a árvore da vida para todos que creem no Messias.
Quando você lê Paulo dizer:
1 Coríntios 11:1: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.” (ARA)
Sabendo que Paulo guardava os sábados, as festas de Deus e ensinava sobre vários mandamentos e instruções da Lei de Deus, fica claro que ele estava imitando Yeshua. Afinal, o Messias viveu da mesma forma, ensinando a Torah, praticando-a e concedendo aos seus discípulos uma compreensão plena de todas as coisas.
Por isso, apesar de toda teologia, dogmas e doutrinas humanas, continuamos a seguir o Messias que nos disse a respeito da Lei:
Mateus 5:17-19, onde Jesus diz:
“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, mas para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes menores mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus.”
“(…)aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus(…)”
Rafael Ramos, Shalom Shalom!
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